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Pra Parar de Correr

Foto do escritor: Ivy GobetiIvy Gobeti

Atualizado: 26 de jul. de 2021


Pra parar de correr, pra parar de estender os pés, tortos, violentos, na busca vil, pra parar de correr, em rompantes de verdades exaltadas, que se gritam, verdades que se iludem e se enroscam no fio da mentira, pra parar de enraizar nos pés o chão, demasiado frio, demasiado fraco. Pra parar de correr, e rasgar a beleza do caminho. Riu-se o ponto de chegada ao lhe ver passar, rindo você, achando-se o primeiro a chegar, breve ruído do desperdício, de atalho em atalho, sem mais placas a acompanhar, corre, sem parar, nem viu o porto, discreto, parado a lhe observar, enquanto seus pés, insistentes, mecânicos, desestruturados, por ele passavam num fôlego, reconhecendo o movimento só sem fim, perdendo assim, o fim de todo movimento.



... que a felicidade vem devagar, em silêncio, ela vem sem conversar, e ela anda, e sem perceber, ela entende que é um vento, nobre, a lhe sustentar, e sem passos, ela salta aos seus olhos, distrai seus medos, lhe põe a seguir, mas só no andar. A Felicidade vem devagar, e conta aos seus pés que o ritmo é o do despertar, e que a força, o impulso, é a respiração de um segundo, é a estação de um olhar, e que ao porto, correndo, não pode chegar, as águas lhe molham os sapatos que tão rápido ali lhe fizeram estar, mas intactos seus pés não sentem o sal a ferir, não sabem, sem a dor, entender onde estão, ou entender que estão vivos, e ao revestimento de couro a queda é tudo o que há. A Felicidade vem, no meio do caminho, lhe convidar a tirar os sapatos, machucar os pés e andar, e sentir, na pele a sangrar que chegou ao porto, e que se mais andar, além, até água doce, em algum ponto, vai encontrar...


 

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