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A Vida A Partir Da Morte

  • Foto do escritor: Ivy Gobeti
    Ivy Gobeti
  • 29 de jun. de 2021
  • 1 min de leitura

Atualizado: 26 de jul. de 2021


Não hei de falar aqui de forma impessoal, quando na vida a partir da morte posto-me tão pessoalmente, não só em participar, como principalmente em personificá-la, ainda vezes muitas a criá-la. É preciso que eu morra, de tempos em tempos, como a beleza vem clamar por ser vista quando ao encontro concreto da feiura, como as impressões de valor se sobressaltam ao toque do desvalor, como as noites inevitavelmente só o são assim chamadas porque não são dias. E morro eu, de muitas intensidades, ainda também em muitas intensidades, minhas mortes eram mais espaçadas e me tomavam pálidas lacunas do ser, bem como as vidas que lhes ocupavam os lugares em mim posteriormente, mas minha morte evoluiu e me visita com mais frequência, ainda que fique bem à vontade em meus espaços, ainda que sente-se e coloque-se em conversas mil, permanece por menos tempo, sua duração não me ama como me ama sua força. Vão-se embora minhas mortes, todas em seus ápices, deixam-me nada além de vida e largamente em mistério fazem-se a nutrir-me do que no dia de suas noites jaz, como se falta nenhuma de vida pudesse me fazer lembrar menos de que a vida há. Eu morro de tempos em tempos e é preciso que eu morra, a estar longe das fontes já não mais fecundas, como fazem os pássaros em voos continentais, minha morte vive tanto que se esvai em si e morre contínua e novamente, espalha-se cansada ao encontro do meu corrente sangue e alcança sinal vital; morro como todo o resto faço: até a última gota de si, minha morte morre sempre em vida.


 

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